Governo deu o aval, mas modelo de custeio para o descarte dos
resíduos sólidos ainda não foi definido entre indústria e comércio.
Como a conta será paga? Essa é a questão em aberto para as
empresas do ramo farmacêutico do país no enquadramento da Política Nacional de
Resíduos Sólidos.
Há dez dias, o governo federal deu o sinal verde para a
implantação do sistema nacional de logística reversa de remédios, mas a
definição prática por trás dos pontos de coleta das drogas em desuso ou fora do
prazo validade está também nas mãos da indústria e do comércio, que hoje
apresentam estimativas diferentes para a mesma questão.
Com centros de coleta espalhados em 231 unidades por sete estados,
a rede Raia Drogasil já recolheu 37,9 toneladas de cápsulas e seringas antigas
desde o início do projeto, em 2010. Mensalmente, são cerca de 8 quilos por
unidade. "É feita a separação desse resíduo. Embalagens são encaminhadas
para a reciclagem, cápsulas e o material que teve contato direto com o
medicamento vão para a incineração", explica Cleber Bernardes, coordenador
do núcleo farmacêutico de rede. Para ter os resíduos recolhidos, cada loja paga
R$ 70 por mês, em média.
O serviço é gerenciado pela matriz desde 2005, Alessandra
Cappelaro disponibiliza em suas duas farmácias de manipulação (Farmadoro) uma
caixa para coleta dos resíduos. Com volume crescente a cada ano, ela atinge
hoje cerca de 50 quilos por mês que são recolhidos pela Limpurb, departamento
de limpeza pública mantido pela prefeitura de São Paulo. "É um lixo
basicamente composto por medicamentos alopáticos que foram esquecidos no
tempo", explica ela, que também é Professora na Universidade Anhanguera
Uniban.
O ponto de questionamento dela é em relação ao custo da
logística reversa, que hoje é basicamente gerenciado pelos comerciantes em
conjunto com as esferas públicas. Por trimestre, ela investe R$ 250. "Mas
o município oferece condições favoráveis. Se fosse encaminhar esses resíduos
por conta própria para a incineração seria muito mais elevado".
Na avaliação da indústria, no entanto, o volume estimado na
implementação de uma política de logística reversa é menor. "No recorte
que consideramos, cada farmácia recolhe 2,5 quilos por mês, mas o volume cai ao
longo do tempo chegando a estabilizar em um quilo", diz Maria José
Delgado, Diretora de Inovação da Interfarma (Associação da Indústria
Farmacêutica de Pesquisa).
Além da divisão dos custos, a projeção de volume é justamente um
dos pontos em discussão no Comitê Orientador para a Implementação de Sistemas
de Logística Reversa (CORI), o colegiado composto por membros de cinco
Ministérios que discute os moldes que serão implementados no sistema nacional.
"É uma novidade para todo mundo. Estamos falando em cálculos, prospecções,
perspectivas, mas isso tudo na prática pode apresentar uma outra realidade. É
por isso que defendemos um modelo com flexibilidade e expansão de coleta nos
cinco primeiros anos", acrescenta.
Nos próximos dias, o mercado aguarda a publicação do Edital de
Chamamento, que deve formalizar as regras na cadeia de coleta. A partir disso,
o modelo deve começar a entrar em vigor em até 120 dias em todo o território
nacional.
Mas e como a conta será paga? Essa resposta deve ser apresentada
somente a médio-longo prazo. "Tudo indica que teremos um modelo mais
aberto, muito próximo de uma autorregulação. Diferente, por exemplo, do modelo
de logística reversa de lâmpadas, que vai embutir o custo em cada etapa de
produção até chegar ao consumidor final", explica Lina Pimentel Garcia,
sócia do escritório de advocacia Mattos Filho. No caso dos medicamentos,
indústria e comércio reforçam a antiga pauta da desoneração de tributos, já que
o preço dos remédios é fixado pela legislação. Associações pedem corte de
tributos.
Em iniciativa conjunta, a Associação da Indústria Farmacêutica
de Pesquisa (Interfarma) e a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e
Drogarias (Abrafarma) apresentaram ontem a campanha ‘Sem Imposto, Tem Remédio',
no esforço pela desoneração fiscal dos medicamentos no país. A meta das
entidades é coletar 10 milhões de assinaturas em um mês, por meio de cadernos
disponíveis em mais de 6 mil farmácias do país, e encaminhá-las à Presidência
da República, ao Congresso e aos Estados, "Por ser um mercado regulado
pelo governo, se hoje os remédios fossem livres de tributação, ficariam
imediatamente cerca de 30% mais baratos para o consumidor final", diz
Antônio Britto, presidente da Interfarma.
Em uma comparação tributária, a alíquota de ICMS (Imposto sobre
Operações relativas à Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços)
aplicado aos remédios fica entre 17% e 19%Para um barco motorizado esse tributo
é zero; helicóptero, 4%; mortadela, 7%; e automóvel, 12%.
Fonte: Brasil Econômico