O
trabalho está sendo feito por um grupo de pesquisadores do Instituto de
Biociências e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP, em
colaboração com colegas da Universidade Estadual de Campinas - Unicamp, e tem
utilizado a espécie como marcadora dos níveis de poluição da cidade por metais
pesados e outros elementos químicos.
A tipuana é uma espécie de
árvore de porte avantajado e com copa ampla e densa, que oferece sombra e
vários outros benefícios ambientais. É originária da Bolívia e começou a ser
plantada em São Paulo antes de 1950. A árvore é uma das que mais caem em São
Paulo e por isso começou a ser substituída por espécies nativas.
A
árvore absorve pelas raízes elementos químicos, como metais pesados, presentes
na atmosfera e carregados para o solo pela água das chuvas pelas raízes. Esses
compostos químicos são transportados junto com a seiva nos vasos da planta e
ficam armazenados em sua madeira, nos anéis de crescimento anual, que são
círculos na parte interna do tronco, à medida em que ela cresce.
Cada
um dos anéis de crescimento representa um ano de vida da planta, sendo os
maiores os mais recentes e os menores os mais antigos. Ao analisar a composição
química deles, os pesquisadores conseguem medir a concentração de metais
pesados no solo de um determinado ambiente no ano em que o anel foi formado. E,
ao comparar as concentrações dos anéis, avaliar como a presença desses
elementos químicos variou em uma escala de décadas.
Ao
analisar a composição química desses anéis e de cascas de exemplares da árvore
na capital paulista, os pesquisadores constataram que reduziu a poluição por
cádmio, cobre, níquel e chumbo na zona oeste de São Paulo nos últimos 30 anos.
“Conseguimos capturar a evolução da poluição por alguns metais pesados na
cidade de São Paulo armazenados na madeira da tipuana”, disse o professor do
Instituto de Biociências da USP e um dos autores do estudo com o apoio da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Marcos
Buckeridge.
Segundo
o pós-doutorando no IB-USP e primeiro autor do estudo, Giuliano Maselli
Locosselli, essa espécie de árvore se mostrou a melhor espécie para as análises
químicas tanto dos seus anéis de crescimento anual como das cascas. A princípio
tinham sido selecionadas três espécies mais comuns na cidade: o alfeneiro, a
sibipiruna e a tipuana.
Com
a análise das cascas da tipuana, é possível avaliar a concentração de elementos
químicos presentes na atmosfera e que se depositaram na parte externa do tronco
da árvore. Ao medir a concentração de elementos químicos de amostras de cascas
de diversas árvores espalhadas por São Paulo, consegue-se avaliar a variação
espacial desses elementos químicos na atmosfera da cidade em escala de anos.
“Como
a casca é uma parte mais simples de se obter da planta do que os anéis de
crescimento anual e o custo das análises químicas delas também é menor, é
possível analisar as cascas de diversas árvores e cobrir uma grande área. Isso
permite ver como a poluição por metais pesados e outros elementos químicos se
distribui por toda a cidade”, disse Locosselli.
Diminuição
da concentração
O
estudo inicial foi feito para analisar a distribuição de cádmio, cobre,
mercúrio, níquel, sódio, chumbo e zinco em anéis de duas árvores plantadas no
jardim da Faculdade de Medicina da USP, na zona oeste da cidade. O objetivo do
estudo foi avaliar as mudanças temporais nos níveis de poluição por metais
pesados nessa região da cidade. As análises dos dados indicaram que houve uma
redução da poluição por cádmio, cobre, níquel e chumbo nas últimas três décadas
na região onde estão situadas as espécimes analisadas. A redução dos níveis de
sódio e zinco foi menos significativa.
“A diminuição dos níveis de
chumbo pode ser atribuída à eliminação gradual desse elemento químico na
composição da gasolina, enquanto que a tendência decrescente da poluição por
cádmio, cobre e níquel provavelmente está relacionada ao aumento da eficiência
dos veículos e à desindustrialização de São Paulo”, estimou Buckeridge.
Fonte: EcoDebate.